Pega a Visão

Se o preto aqui é quem mais morre,
Com certeza não é quem mais mata.
Se a gente só passa perrengue
É porque tem branco que só vive mamata.

Geralmente é gente da nata
Que manda pôr fogo na mata.
Com a pele branquinha,
Transporta farinha no passarinho de lata.

A polícia já foi acionada,
Mas não caio em conto de fardas.
O Brasil é um circo falido
Que vive insistindo em suas palhaçadas.

Faz valer a palavra vanguarda,
Minha crença ancestral me resguarda.
Vivo pedindo pro anjo da guarda:
“Pelo amor de Deus, me proteja do guarda.”

Genocida, cuidado. Evite.
Quanta gente que morreu de Covid?
Sociedade branca já me disse
Que marginal tem o perfil do Thaíde.

É preconceito, racismo ou os dois?
Isso pra nóis é feijão com arroz.
Acostumaram a matar, humilhar,
Nos roubar e pedir desculpa depois.

Não fazemos nada contra isso.
Macumbeiro não fez esse feitiço.
Querem que continuemos sofrendo,
Vivendo em favelas, becos e cortiços.

Povo não se une, parece imune,
Não tô falando da vacinação.
O mal informado, chapéu atolado,
É o grande culpado da vacilação.

Refrão:
Campo minado, irmã.
Campo minado, irmão.
O inimigo se fortalece
Da nossa desunião.
É questão de sentir então, pega a visão:
Afrodescendente, que vive ciente,
É livre até na prisão.

(Repete refrão)

Sempre olhando por onde piso,
Foi assim que tirei o pé do chão.
Pra um favelado em Ibiza,
Vinte favelado em caixão.

Pra cada um milhão de propina,
Falta um real pra comprar o pão.
Números na Faria Lima,
E o que nóis faz, nunca farão.

Na fé do Cordeiro,
Filhos de porteiro.
Nóis que nasce último e morre primeiro.
Nóis que acende um fino e queima inteiro.
Grosso é só o calibre que deitou o guerreiro.

Aprendi com Thaíde:
A não ser mais um idiota
Abre as perna e só fecha as porta.
Que o campo tá minado —
Eu nem falei de mina.
É de uns mano mimado
Que não entende as rima.

E olhando por onde piso,
Foi assim que tirei o pé do chão.
Pra um favelado em Ibiza,
Vinte favelado em caixão.

Pra cada um milhão de propina,
Falta um real pra comprar o pão.
Números na Faria Lima,
E o que nóis faz, nunca farão.

Kaô Kabecilê
Kaô Kabecilê